Há muito tempo ela não se sentia tão viva.
Existia ali algo inesperado, desconhecido.
Não, talvez não desconhecido. Esquecido.
Ela havia esquecido o que era o desejo,
o que era sentir as pernas queimando.
Aquele fogo subindo corpo acima,
tirando-lhe a capacidade de raciocinar,
de ser coerente.
Balbuciava coisas sem sentido.
Era assustador o que ele estava fazendo
com sua mente,
mas desesperadoramente delicioso o que fazia
com o seu corpo.
Perdeu os sentidos.
E quando acordou, ele não estava mais ali.
Juntou os trapos, os cacos,
o desejo que lhe vertia pelos poros.
Nunca mais se sentiu tão viva.
E nunca mais conseguiu falar de si mesma
na primeira pessoa.
Perdera-se.
*The Aftermath. Aquilo que sobra depois da calamidade. As consequências que ficam ao fim da guerra. Aqui, o pós delírio. O que sobrou ao fim da devastação emocional. Aftermath.
E finalmente o que ela sentia
deixou de ser ansiedade,
deixou de ser apatia.
Virou apenas saudade...